Os telefonemas, as cartas. O sentido do Papa pela comunicação.

Eis o artigo.
“P/ excelentíssimo Doutor Scalfari... “O Papa pega a caneta para escrever uma carta de resposta a um jornal. Isso jamais acontecera. O fundador de “Repubblica”, Eugenio Scalfari, se dirigira diretamente a ele por duas vezes, em julho e depois em agosto, com perguntas e reflexões a partir da encíclica “Lumen Fidei”. Francisco
considerou-as inteligentes e respondeu com uma longa carta pessoal
publicada pelo cotidiano, apresentando o coração da fé e da experiência
cristã e explicando que o diálogo com os não crentes “não é um acessório
secundário da existência de quem crê: é, ao invés, uma expressão íntima
e indispensável”.

Joseph Ratzinger, como cardeal, tinha sido protagonista de alguns diálogos com não crentes sobre os temas da fé. Bento XVI promoveu o “Pátio dos Gentios” para que este confronto continuasse, mas durante o seu pontificado não há precedentes semelhantes à carta publicada no jornal La Repubblica. Enquanto Paulo VI e João Paulo II haviam feito diálogos sobre temas da fé tornados livros-entrevista, mas fizeram-no com grandes subscrições católicas (Jean Guitton, André Frossard, Vittorio Messori), e não com quem não crê.
A carta a Scalfari é somente a última das novidades de Francisco, um Papa que, surpreendido pela
celeuma suscitada pela bagagem de mão
por ele pessoalmente levada ao avião no Rio, havia comentado: “É
preciso ser normal”. É a “normalidade” excepcional para um Pontífice, de
recusar a escolta e de mover-se por Roma ou por outra parte do mundo
sem os grandes e luxuosos automóveis de representação, acabando por
utilizar utilitários muito mais modestos do que aqueles dos cardeais no
cortejo. È sua decisão de habitar na Casa Santa Marta,
numa residência menor e principalmente menos isolada do que o
apartamento no palácio apostólico, fazendo as refeições na sala de
jantar comum. Há também os telefonemas, feitos diretamente e sem nenhum
filtro, também a pessoas desconhecidas que lhe escreveram assinalando
situações de sofrimento da mãe que decidiu não abortar ou aquela que, ao
invés, perdera o filho num assalto.
Pequenas e grandes escolhas de estilo, novas para um Papa. Falam de
um pastor que por vinte anos foi o bispo no meio do povo, para o povo e
com o povo, fora dos palácios curiais, longe de todo clericalismo e
longe do poder, continuando a ser ele mesmo até o fundo, também no
Vaticano.
O Papa que, aparecendo logo após a eleição, antes de abençoar o povo,
baixou a cabeça pedindo aos fiéis que orassem por ele em silêncio, está
agora atingindo muitíssimas pessoas: homens e mulheres, também
distantes da Igreja, escutando as homilias cotidianas da missa em Santa Marta
e olhando com simpatia o Papa “pároco”, capaz de “esmiuçar” o
Evangelho, repetindo com particular insistência a mensagem da
misericórdia. É a ternura de um Deus que ama e acolhe, junto à
prioridade evangélica do abraçar os pobres e os sofredores para tocar “a
carne de Cristo”. Sua força comunicativa deriva do fato de ser um
testemunho imediato e crível.
“É um Papa que verdadeiramente faz sentir Deus próximos aos últimos e
aos necessitados”, disse sorrindo uma garota africana saindo
terça-feira passada do Centro Astalli dos jesuítas, onde Francisco
havia recém encontrado um grupo de refugiados. Um Papa plenamente à
vontade nas favelas do Rio, nas mesas dos pobres, no abraço com os
enfermos na Praça São Pedro, como no diálogo com Eugenio Scalfari.
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