quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A bagagem de nosso caminho.


No Coração da Vida

Luiz Turra
No caminho da vida precisamos de uma bagagem que não se perde, nem deprecia


Tende a aumentar sempre mais a mobilidade das pessoas que se põem a caminho, movidas pelos mais diferentes motivos. Às vezes é uma semana pesada do corre-corre de uma grande cidade que reclama uma saída ao litoral; às vezes são os negócios que obrigam viagens próximas ou distantes, de mais dias, menos dias. Enfim, a bagagem de nosso caminho é sempre necessária para o mínimo de conforto. Faz parte de nosso mundo pessoal ou familiar. Não podemos ignorar as necessidades primárias de nosso vestir, de nossa higiene pessoal e de nossa proteção.
Esquecer a bagagem ou perdê-la no caminho é sempre um desconforto e uma preocupação. A sensação de quem desce de um voo e não encontra mais sua bagagem é parecida com a de quem se vê sem chão sob os pés. Mesmo que se tenha toda a possibilidade de resgatá-la, assim mesmo o fato nos deixa mal.
A bagagem de nosso caminho, para alguns, é pouca e simples, mesmo que a viagem seja longa e por muito tempo. Para outros, é enorme e complicada, mesmo que a viagem seja breve e por pouco tempo. Há bagagens de todos os jeitos, que revelam a mentalidade dos peregrinos. Conheci um intelectual que vivia lendo livros e não saia sem levar sua minibiblioteca na bagagem. A obsessão por livros era tanta que, facilmente, esquecia as roupas, calçados e material de higiene.
Um fato real me foi narrado por um destes viajantes que, antes de partir, entulhava seu carro de tudo o que era possível, incluindo na bagagem o seu cachorro de estimação. Num entardecer de neblina, indo para um lugar de descanso, perdeu o rumo e desceu ladeira abaixo, demolindo tudo e causando a morte do seu cachorro. Alguém viu o acidente e foi ao encontro para socorrê-lo. Lá estava o acidentado gritando: “Perdi meu cachorro! Perdi meu cachorro! Não sobrou mais nada!” O desconhecido que o socorria perguntou: “Estás vivo? Estás bem?” O infortunado respondeu: “Sim! Mas perdi tudo!”
Passado o susto da ocorrência, o carro foi guinchado, levado a uma oficina e o viajante foi socorrido e voltou para casa. Quando serenou o tumulto interior, deu-se conta de que não basta levar muita bagagem para o caminho, nem cachorros de estimação. É preciso arrumar outra bagagem no caminho da vida, que dê segurança e garantia na viagem da existência, com a qual podemos chegar e nos apresentar diante de Deus, sem perdê-la, nem depreciá-la. De um acidente, acordou para a busca de uma sincera espiritualidade.

Para arrumar bem a bagagem de nosso caminho é fundamental acolher a sugestão de Jesus Cristo: “Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6,19-21).
A bagagem da vida não é guardada em malas, nem carregada em carros, nem mesmo na mochila dos ombros. É a bagagem de uma vida rica de sentido, de um coração impregnado de valores humanos e cristãos.

fonte: 
Edição 5.332 – Ano 105 – Caxias do Sul - RS, 13 de fevereiro de 2013.  

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