Terça, 10 de setembro de 2013
Os telefonemas de Francisco
nunca são por acaso. Ele liga para uma pessoa para falar com todas.
Neste caso, as mães solteiras. Um envelope endereçado simplesmente a
"Sua Santidade, Francisco, Cidade do Vaticano". Na terça-feira à tarde, o
celular de Anna Romano tocou. "Eu atendi e fiquei sem
palavras: no início, pensei que era trote, mas depois ouvi a referência à
carta sobre a qual só os meus pais sabiam". Do outro lado da linha, o
pontífice.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 06-09-2013.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Vou batizar o seu filho. Nós, cristãos, não devemos levar a
esperança embora", disse o papa por telefone à vendedora romana de 35
anos que tinha se dirigido a ele em um momento de desespero. Tendo
ficado grávida de um homem que a abandonou, no fim de junho, ela
escreveu a Francisco para contar a sua triste história.
"O meu companheiro me deixou, dizendo-me que não tem nenhuma intenção
de cuidar do bebê a caminho, ou, melhor, me aconselhou a abortar",
explica ela. "Por um instante, eu pensei em fazer isso realmente. Agora,
só a ideia me dá calafrios. Naquele período, porém, eu estava muito
sozinha e infeliz".
Ela optou por dar continuidade à gravidez, com o apoio da família. "O
pontífice me telefonou e me disse que eu tinha sido muito corajosa e
forte por ter decidido manter o meu bebê, apesar de o seu pai ter me
deixado", conta a mãe solteira. "Ele me prometeu que vai batizá-lo
pessoalmente: o seu telefonema foi emotivamente muito intenso e mudou a
minha vida".
A mulher descobriu que o ex-companheiro já era casado e tinha um filho. Há alguns meses, Anna se mudou para Arezzo, onde encontrou trabalho como vendedora em uma joalheria, depois que a loja onde ela trabalhava em Roma fechou.
"Os telefonemas entram na esfera das relações pessoais do papa",
observa um colaborador próximo de Bergoglio. "Os conteúdo dessa conversa
expressam um sentimento de proximidade e de pastoralidade".
Anna Romano acrescenta: "Quando eu lhe disse que eu
queria batizar o meu filho, mas que eu tinha medo que não fosse possível
porque sou uma mãe solteira, já divorciada além disso, o papa me disse
que, se eu não tivesse um pai espiritual para o batismo, ele mesmo
pensava em dar o sacramento ao meu pequeno".
Um brilho na escuridão de meses sombrios. "Não sei se o papa
realmente encontrará tempo para batizar o meu filho, que vai nascer no
início de abril e que, se for menino, eu quero chamar de Francisco",
enfatiza Anna. "Ele me deixou feliz, me deu força e eu
conto a minha história porque eu gostaria que servisse de exemplo para
muitas mulheres que se sentem longe da Igreja só porque encontraram o
homem errado, estão divorciadas ou porque encontraram homens que nem
sequer são dignos de serem pais".
Um sinal forte também para dentro da Igreja. "Ainda como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio se confrontava com os sacerdotes que, em situações como essa, negavam o batismo", comenta o sociólogo Luca Diotallevi, organizador das Semanas Sociais dos Católicos.
"O gesto de Francisco é um testemunho de fé que encoraja e lembra a
todos que o julgamento sobre o comportamento das pessoas só pode ser
dado por Deus".
Na mesma sintonia, o teólogo Gianni Gennari
diz: "Batizando pessoalmente essa criança, o papa afirma o primado da
misericórdia com relação ao julgamento sobre o passado dos pais e da
família: Deus sempre olha para o futuro e esquece qualquer coisa diante
de um coração aberto à esperança".
Além disso, acrescenta Gennnari, Francisco, dessa forma, "substitui o moralismo pela afirmação dos valores morais" diante de uma vida nascente: "Assim como o padre Milani, o papa toma diretamente nas mãos a situação, não delega aos outros e testemunha o Evangelho da esperança".
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